Destaques em Câncer de Próstata do Congresso ASCO 2025: Uma Análise Crítica para Especialistas
Introdução
O Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2025, realizado em Chicago, mais uma vez se consolidou como o principal palco para a divulgação de dados que moldam e redefinem a prática oncológica. Para o câncer de próstata, a tônica foi a expansão de terapias de precisão para cenários mais precoces da doença e a maturação de dados que solidificam as estratégias de intensificação terapêutica.
Este artigo apresenta uma análise técnica dos estudos mais impactantes, com foco em suas implicações diretas para a conduta clínica do urologista e do oncologista.
1. Inibidores de PARP no Cenário Hormônio-Sensível: O Estudo AMPLITUDE
Um dos estudos de maior destaque (late-breaking abstract) foi o AMPLITUDE (NCT04497844), um ensaio clínico de fase 3 que pode alterar o paradigma de tratamento para uma subpopulação específica de pacientes com Câncer de Próstata Hormônio-Sensível Metastático (CPHSm).
- Desenho do Estudo: O AMPLITUDE randomizou pacientes com CPHSm e alterações em genes de reparo de recombinação homóloga (HRRm), notadamente BRCA1/2, para receberem o tratamento padrão com acetato de abiraterona e prednisona (AAP) em combinação com o inibidor de PARP niraparibe ou com placebo.
- Resultados Principais: O estudo atingiu seu desfecho primário de sobrevida livre de progressão radiográfica (SLPr). A combinação de niraparibe + AAP demonstrou uma melhora estatisticamente significativa e clinicamente relevante na SLPr em comparação com AAP + placebo na população com mutações em genes da via HRR. A análise de subgrupo revelou que o benefício foi mais pronunciado em pacientes com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2.
- Implicação Clínica: Os dados do AMPLITUDE são os primeiros de fase 3 a validar o uso de um inibidor de PARP neste cenário mais precoce da doença metastática. Isso reforça a necessidade imperativa de realizar testes genéticos (somáticos e/ou germinativos) já no momento do diagnóstico do CPHSm, pois a presença de uma mutação em genes HRR pode justificar a intensificação precoce com a terapia tripla (ADT + AAP + niraparibe), alterando a sequência terapêutica e potencialmente melhorando desfechos a longo prazo para esses pacientes.
2. Terapia com Radioligantes (TRL): Estratégias de Retratamento e Novas Fronteiras
A terapia com Lutécio-177-PSMA-617 está bem estabelecida no Câncer de Próstata Resistente à Castração (CPRCm) pós-quimioterapia. Os dados da ASCO 2025 exploraram sua utilização em novos contextos.
- Estudo RE-LuPSMA (NCT06288113): Este ensaio de fase 2, de braço único, investigou a eficácia e segurança do retratamento com 177Lu-PSMA-617 em pacientes com CPRCm que já haviam recebido e respondido a um regime prévio de 177Lu-PSMA-617, mas que eventualmente progrediram.
- Resultados Preliminares: Os dados iniciais sugerem que o retratamento é viável e pode oferecer um benefício clínico significativo em uma população de pacientes com opções terapêuticas limitadas. As taxas de resposta de PSA (≥50%) e a sobrevida livre de progressão foram clinicamente relevantes, com um perfil de toxicidade manejável e consistente com o tratamento inicial, sem novos sinais de segurança preocupantes.
- Implicação Clínica: Embora necessite de validação em estudos maiores, o RE-LuPSMA sugere que o retratamento com TRL pode ser uma estratégia válida para pacientes selecionados que demonstraram resposta e boa tolerabilidade ao tratamento inicial. Isso expande o contínuo de cuidados e oferece uma nova linha de tratamento em um cenário de alta necessidade.
3. Consolidação da Intensificação no CPHSm: Dados de Longo Prazo
A maturação dos dados de sobrevida global (SG) de estudos pivotais continua a solidificar as estratégias de intensificação terapêutica no CPHSm.
- Estudo ARCHES (NCT02677896): Foram apresentados os dados de seguimento de 5 anos deste estudo, que avaliou a adição de enzalutamida à Terapia de Privação Androgênica (ADT) em pacientes com CPHSm.
- Resultados de Longo Prazo: A análise final confirmou um benefício sustentado e significativo na sobrevida global para o braço que recebeu enzalutamida + ADT em comparação com ADT isolada. A probabilidade de sobrevida em 5 anos foi notavelmente maior no grupo de tratamento combinado. O perfil de segurança em longo prazo se mostrou consistente e manejável.
- Implicação Clínica: Estes dados reforçam o conceito de que a intensificação precoce com um ARPI de nova geração (neste caso, enzalutamida) é um padrão de cuidado que oferece um benefício de sobrevida duradouro para a maioria dos pacientes com CPHSm, independentemente do volume da doença.
Conclusão e Tendências
O Congresso da ASCO 2025 solidificou três tendências principais para o manejo do câncer de próstata:
- Medicina de Precisão em Fases Precoces: A testagem genética para identificar mutações em genes HRR está se tornando mandatória já no diagnóstico da doença metastática hormônio-sensível.
- Expansão da Teranóstica: A terapia com radioligantes está sendo explorada em múltiplos cenários, incluindo retratamento, e a expectativa é sua movimentação para linhas de tratamento ainda mais precoces.
- Benefício Sustentado da Intensificação: Dados de longo prazo continuam a comprovar que a intensificação terapêutica precoce no CPHSm (terapia dupla ou tripla) resulta em ganhos de sobrevida significativos, consolidando-a como o padrão de cuidado.
A prática clínica em câncer de próstata continua em rápida evolução, exigindo do especialista uma atualização constante para oferecer as estratégias terapêuticas mais eficazes e individualizadas para cada paciente.
Comentários1

Felisberto de Moraes canova
Participo do ensaio ARANOTE FASE III, Basicamente concluo que sem aporte nutricional diferenciado e estabeleça padrões consistentes de imunidade capazes DETER a progressão das células tumorais, NAO TEM TERAPIA MILAGROSA!!!!
11/06/2025 19:07:41
Dr. Alexandre Sato
Ola Felisberto ,realmente nesse fase do câncer de próstata metastático ter um dieta adequada com aporte nutricional ajuda muito na continuidade do tratamento visto que a terapia também alguns pouco efeitos colaterais.
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Dr. Alexandre Sato
Médico Urologista em São Paulo - SP
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