Mitos vs. Verdades: O que Realmente Esperar dos Efeitos Colaterais no Tratamento do Câncer de Próstata?

Dr. Alexandre Sato 29 Outubro

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Médico Especialista

Receber o diagnóstico de câncer de próstata traz uma avalanche de emoções. Junto com a preocupação sobre a doença, surge um medo talvez ainda mais imediato: o medo do tratamento e de suas consequências.

As palavras "impotência" e "incontinência" ecoam como sentenças definitivas, fazendo com que alguns homens hesitem em buscar ajuda ou até mesmo considerem não tratar a doença.

Mas em uma era de cirurgia robótica, radioterapia de precisão e novas terapias, quanto desse medo é baseado em fatos e quanto é mito?

A verdade é que, sim, os tratamentos para o câncer de próstata (como a cirurgia de remoção da próstata, a prostatectomia, ou a radioterapia) podem causar efeitos colaterais. Isso acontece porque a próstata está anatomicamente muito próxima dos nervos responsáveis pela ereção e do esfíncter que controla a urina.

No entanto, a medicina evoluiu drasticamente. É hora de separar o que é fato do que é exagero.

MITO 1: "Todo homem que trata o câncer de próstata fica impotente e incontinente."

VERDADE: Falso.

Este é, sem dúvida, o maior mito e o que mais gera ansiedade.

Sobre a Incontinência: Embora algum grau de perda urinária (especialmente pequenos escapes ao fazer esforço) seja comum logo após a cirurgia, a incontinência permanente e total é rara. Com técnicas cirúrgicas modernas, como a robótica, a preservação do esfíncter é muito mais precisa. Além disso, a fisioterapia pélvica, iniciada antes ou logo após o procedimento, tem resultados excelentes na recuperação do controle urinário.

Sobre a Impotência (Disfunção Erétil): A recuperação da função erétil é mais complexa e depende de muitos fatores: a idade do paciente, a função sexual antes do tratamento e, crucialmente, se foi possível preservar os feixes nervosos durante a cirurgia (o que depende da agressividade e localização do tumor). Muitos homens recuperam a função erétil, embora isso possa levar de 6 meses a 2 anos. Mesmo para quem não recupera naturalmente, existem tratamentos eficazes (como medicamentos, injeções ou próteses penianas).

MITO 2: "A radioterapia é 'mais leve' e não causa esses problemas."

VERDADE: Os efeitos são diferentes, não necessariamente "mais leves".

A radioterapia moderna é extremamente focada, mas também afeta os tecidos ao redor.

Disfunção Erétil: A radioterapia também pode causar disfunção erétil, mas ela tende a aparecer de forma mais gradual (ao longo de anos) do que o efeito imediato da cirurgia.

Incontinência: É muito menos provável causar incontinência urinária significativa.

Outros Efeitos: A radioterapia pode causar sintomas urinários irritativos (urgência para urinar) e problemas intestinais (inflamação do reto, chamada proctite), que geralmente são temporários, mas podem se tornar crônicos em uma minoria dos casos.

MITO 3: "A terapia hormonal é inofensiva, pois não é cirurgia nem radiação."

VERDADE: Falso.

A terapia de bloqueio hormonal (ADT) é usada para tumores mais avançados ou em conjunto com a radioterapia. Ela "desliga" a testosterona, que alimenta o câncer de próstata. Embora não cause incontinência, seus efeitos colaterais são sistêmicos e impactam muito a qualidade de vida:

• Perda total da libido (desejo sexual) e disfunção erétil.
• Fogachos (ondas de calor).
• Ganho de peso e perda de massa muscular.
• Fadiga e alterações de humor.
• Risco aumentado de osteoporose e problemas cardiovasculares a longo prazo.

MITO 4: "Se eu tiver um efeito colateral, é para sempre."

VERDADE: Falso.

A reabilitação é uma parte fundamental do tratamento. O maior erro é aceitar o efeito colateral sem buscar solução.

Hoje, temos um arsenal para lidar com as consequências:

• Fisioterapia Pélvica: Essencial para acelerar a recuperação da continência.
• Medicação e Reabilitação Peniana: Programas para estimular o fluxo sanguíneo e ajudar na recuperação da ereção.
• Tratamentos para DE: Medicamentos orais (como Sildenafila), injeções ou próteses penianas (que oferecem uma solução definitiva e com alta taxa de satisfação).
• Tratamentos para Incontinência: Em casos que não melhoram com fisioterapia, existem "slings" ou esfíncteres artificiais.

Conclusão: Não deixe o medo decidir por você

Os efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata são reais e devem ser discutidos abertamente. No entanto, a ideia de que eles são uma "sentença" inevitável e permanente é um mito que pertence ao passado.

A medicina moderna foca não apenas em curar o câncer, mas em preservar ao máximo a qualidade de vida. A escolha do melhor tratamento (cirurgia, rádio, vigilância ativa ou terapia hormonal) é uma decisão compartilhada entre médico e paciente, pesando os riscos da doença contra os riscos do tratamento.

O maior risco, hoje, é deixar que o medo de efeitos colaterais gerenciáveis impeça o tratamento de uma doença potencialmente curável.

Você tem dúvidas sobre o câncer de próstata?

Informação é a ferramenta mais poderosa contra o medo. Se você foi diagnosticado ou está preocupado com sua saúde, não tome decisões baseadas em mitos.

Agende uma consulta para uma avaliação individualizada. Vamos discutir abertamente o seu caso, as opções de tratamento mais modernas e as estratégias reais para minimizar os efeitos colaterais e preservar sua qualidade de vida.

Sobre o Autor

Dr(a). Alexandre Sato é Urologista e Cirurgião Robótico, com 10 anos de experiência e membro Sociedade Brasileira de Urologia. Com foco no tratamento oncológico e minimamente invasivo, Dr(a). Sato dedica-se a combinar tecnologia de ponta e cuidado humanizado, ajudando pacientes a navegar pelo tratamento do câncer de próstata com segurança e foco na recuperação funcional.